A estética adotou a juventude como padrão de beleza..certo ou errado ?
Olá prezados leitores e leitoras,neste artigo irei analisar um termo que vendo sendo utilizado de maneira equivocada (parcialmente ) que é a associação da beleza com a juventude dentro do ramo da estética.
Tem sido comum nas colunas e publicidades de diversos negócios do ramo da estética utilizar qualidades da juventude para definir a beleza.
A pergunta inicial é : Está errada ou não qualificar a beleza como juventude ?
Ainda não irei responder a essa pergunta,mas quero convidar a todos leitores que iniciem essa reflexão antes de responder lendo esse artigo.
A Estética vem do termo grego aisthésis que define percepção,sensação.A estética é praticamente um segmento da filosofia que procurava entender a ética, ou seja, estudando para isso a natureza,da beleza e da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é a beleza e a produção de emoções diante do belo.A beleza por muitos,quando direcionamos esse olhar ao ser humano enfatiza a vaidade o narcisismo em seu exagero.
Por outro lado, a estética se preocupa com a privação da beleza ou com o que podemos considerar como feio.
É nesse contexto que a humanidade em seu processo evolutivo percebeu a beleza em cada momento de uma maneira diferenciada.Através dos quadros e das artes podemos rever a linha do tempo humana da percepção da beleza e do feio.
Após a revolução industrial e consequentemente com o capitalismo e a relação entre produção x consumo ,a necessidade de novas definições para beleza e como descrever o conceito do que é belo vem ultrapassando limites biológicos com possíveis interesses econômicos secretamente velados.
Lopes & Mendonça, no artigo juventude sob holofotes( 2016), descrevem em seu estudo uma visão completa dos movimentos entre a relação próxima ( ..e perigosa ..) da beleza com a juventude olhada Neste estudo eles aprofundam a percepção da juventude em relação aos padrões de beleza.
Segundo o conceito pós moderno ocorre a descoberta de novos tipos de consumo onde ,segundo Jameson o homem passa a ser uma mercadoria. É nesse contexto que a beleza se integra a uma relação de consumo e manutenção do capitalismo ofertando demandas para o corpo (mercadoria) .
A beleza no seu estado de percepção e do belo sempre foi ligado às artes e não menos no movimento pós modernista. O conceito de "celebridades " ou " estrelas " usado para denominar atores e pessoas com grande fama e popularidade foram catalisados para que houvesse uma referência e padrões a serem seguidos;No entanto, usar o produto , o vestido ou ter a boca da tal atriz já por si seria um estímulo capital suficiente para altos lucros, mas não parou por aí ..A industria cultural serve de engenho movimentador na produção de inúmeros novos produtos para a imagem da beleza. A imagem tornou-se mais importante que o indivíduo e o corpo se converte em um produto integrado a percepção da beleza imposta por essa indústria. O corpo passou a ser moldado e forjado por diversos métodos onde a corpolatria é o limite para provar que há doenças sociais e humanas neste extremo.
O ser belo não se restringiu a moldagem profundas corporais, mas se ampliou para hábitos, estilos e comparações com um grupo de referência como os ricos e seu estilo de vida.
A mídia,então, serve para apontar como uma bússola orientando o caminho que se " deve " seguir para alcançar os padrões perfeitos.Para Costa ," o ser humano acompanha pelas lentes os seus modelos e é convidado a fazer parte como protagonista." Veja que Costa escreve sobre esse tema em 2001 ,mas não lhe parece familiar agora ?
As redes sociais potencializam tais efeitos e as consequências são as mesmas.Para Lopes & Mendonça ,em seu artigo,destacam que o corpo do indivíduo torna-se o depositário das expectativas e em modo responsivo busca nas idas às academias,cirurgias e clinicas da estética,cosméticos , centros de beleza alcançar a beleza padronizada. A diferença entre o virtual e o real estimula a aproximação entre o ideal e o verdadeiro através do consumo de bens,produtos e serviços. Na busca inalcançável vem também angústia,sensação de inadequação e sofrimentos. Nessa busca há photoshops,aplicativos e outros métodos atuais para embelezar sem precisar ser belo realmente.
O corpo da moda está diretamente atrelado à felicidade e por essa razão emocionalmente ligado à políticas de marketing e publicidade neurolinguísticos de maneira bem orquestrada para manutenção dos consumos.
De acordo com Novaes (2013, pp. 66-67), “os padrões estéticos ditados podem ser entendidos como uma forma de regulação social - vigiando e punindo, por meio de seus discursos, os sujeitos que não estão adequados às normas”. Porém, este mesmo contexto, que modela e convoca posturas e comportamentos padronizados e idealizados, pode também provocar reações de sujeitos aos ditames morais, reações que reivindicam posicionamentos críticos, empoderados, que resistem e contestam de modo reflexivo os valores propagados pela mídia. A juventude também é socialmente cultuada a partir de conexões que atrelam a beleza ao corpo juvenil até mesmo pelos próprios jovens.
A juventude como é uma etapa da vida em que o corpo é objeto de valoração e idealização social, contando com fatores biológicos a seu favor, como destacam Garritano (2008), Santos e Zanotti (2013) e Tucherman (2004), reflete respostas e impactos biopsicossociais de associar a beleza estética com a juventude. Para isso devemos lembrar do conceito de envelhecimento onde ,na minha opinião,é a ponte que tenta justificar a tendência estética de associar a beleza à juventude.
O envelhecimento ocorre naturalmente e está dividido em envelhecimento intrínseco e extrínseco.
A estética por estar associada ao externo,por razões óbvias se preocupa com a visão estética da aparência e mais atualmente com o conteúdo biológico de cada indivíduo tenta justificar desnecessariamente as razões para realização de procedimentos de beleza se baseando em resultados joviais.
A denominada estética científica é uma das referências que vem sendo usada para estabelecer uma justificativa de associar a beleza a jovialidade,mas lembre-se ela provém da indústria..
O imediatismo na conquista do corpo desejado talvez leve a percepção da relação tempo x espaço sendo um dos motivos de associar fortemente a beleza a juventude. Ser jovem ou jovial importa valores como alegria,força vital,vitalidade ausência de rugas, preocupações e vida longa pela frente.Sensação de liberdade .
O uso da cirurgia plástica como forma de acelerar os resultados trazendo o imediatismo também é citado como forma de alcançar a beleza juvenil.
Novaes (2013) discute a ideia da suposta facilidade desses procedimentos: “se atribui à cirurgia plástica a promessa de mudança corporal sem esforço – uma substituição das práticas esportivas, do fitness e da aeróbica”, e rebate esse argumento fazendo alusão ao sofrimento do pós-operatório, pois em sua pesquisa, através de leituras e entrevistas realizadas com mulheres que passaram por cirurgia plástica, ela constata o custo físico e emocional de tal intervenção: “a assunção da dor, o desconforto físico e o esforço inerentes à mudança de hábitos também estão presentes” (Novaes, 2013, p. 32).
Vale ressaltar que essa parte penosa é muitas vezes omitida, disseminando-se a ideia da cirurgia plástica como um milagre sem esforços, obedecendo-se, uma vez mais, às diretrizes do consumo.
No estudo citado anteriormente de Lopes & Mendonça a juventude olhando suas referências para o belo não é tão diferente de uma pessoa de 50 anos ou mais. Acrescenta-se ao adulto maduro o poder , o empoderamento e o desejo de uma vida mais longa no ciclo social.
A questão central é estaria correto usar a percepção de juventude para associar a beleza ou não?
Na minha opinião,não deveria.
A beleza é uma percepção de proporções e não de juventude.Logo ,a beleza é estética e não biológica. Uma mulher com proporções estéticas dentro do belo não precisa ser jovem para ser considerada bonita.Um homem maduro de 80 anos com uma estética apropriada a sua constituição e corpo dos 80 anos não deveria ser considerado feio o que propõe quando associamos beleza= juventude . A propósito juventude e controle do envelhecimento ou rejuvenescer também deveria ser tratado de maneira exclusivamente ligada à saúde e bem estar e não à beleza.
A estética ,clínicas,especialistas e profissionais são os principais monitores da saúde humana de cada indivíduo,convivem diretamente com os pacientes devem estar cientes dos impulsos capitais de economia de consumo para serem melhores orientadores de seus pacientes . A indústria e demais atores também deve ser responsáveis em nossa nova era onde o consumidor é o foco Ela sabedora da importância dos profissionais e especialistas no mercado deveria ser a principal fomentadora de boas condutas para uma economia sustentável e menos distorcida evitando exageros como a corpolatria.
Finalizando, recomendo aos profissionais que fiquem atentos aos excessos da mídia que deliberadamente importa desejos e levam os nossos pacientes a insatisfação contínua e desmedida.E isso afeta nosso trabalho,e promove a angústia em todos setores de serviços .
Sem dúvida é um assunto complexo e que deverá ser melhor aprofundado por quem está no ramo da estética. Aliás, o momento é propício .
Sobre o autor :
Dr. Jauru de Freitas, médico atua na saúde pública e privada . É mestre e professor em Dermatologia e tecnologias para cuidados da pele. O Dr Jauru de Freitas, pesquisa e desenvolve estudos com tecnologias desde 2004 e, atualmente, atua na engenharia médica de aplicativos para facilitar diagnóstico e cuidados médicos .Escreve e produz conteúdo científico. Na Medicina estética, atua há 18 anos na prática médica .
Referências para o artigo :
Amliz Ferreira Lopes e Érika de Sousa Mendonça - subjetividade,fortaleza,2016 - A beleza e a juventude sob holofotes.
Novaes, J. V. (2013). O intolerável peso da feiúra: Sobre as mulheres e seus corpos. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio
Ribeiro, P. C., & Oliveira, P. B. (2011). Culto ao corpo: Beleza ou doença? Adolescência & Saúde, 8(3), 63-69. (Link)
Trinca, T. P. (2008) O corpo-imagem na “cultura do consumo”: Uma análise histórico-social sobre a supremacia da aparência no capitalismo avançado. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, SP.
Tucherman, I. (2004). A juventude como valor contemporâneo: Forever Young. Logos: Comunicação & Universidade, 11(2), 134-150. (Link)
Rosa, M. D. (2005). Juventude eterna e “ditadura” do corpo perfeito os discursos da mídia e as práticas da beleza feminina de 1990 a 2005. Trabalho de conclusão de Curso, Centro de Ciências da Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC
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